Vivendo os Períodos Disruptivos da COVID-19
Autor(es)
Ana Terezinha Rodrigues
Diretora Serviço Gestão da Qualidade do HGO, EPE
Muito se tem falado e escrito sobre o flagelo que a COVID-19 tem trazido para o berço da humanidade. Os media entram no nosso quotidiano noticiando sobre os demais países afetados, reportando inesperadas medidas tomadas pelos diferentes líderes mundiais, muitas das quais de uma insensatez tão atroz, que nos fazem questionar afinal quantos opressores por aí existem.... Temos assistido a uma peça de teatro mundial como provavelmente nunca tínhamos pensado ser possível de acontecer. Esta doença pandémica parece que veio para ficar. Apregoam-se dezenas de vacinas, várias curas, mas efetivamente e até à data vemos um alastrar intercontinental da COVID-19, manchando de tristeza, medo, insegurança, caos económico, político e social as comunidades por onde lavra e, sem fim à vista. Veja-se o exemplo do Brasil, do estado de Nova York, da Itália e da nossa vizinha Espanha, completamente arrasados e manchados de negro pelas tantas vidas roubadas. E porque uma desgraça nunca vem só, nas ultimas semanas o mundo parece estar desnorteado, o ato desumano de uma só pessoa consegue provocar movimentos mundiais antirracistas, movimentos anti discriminatórios, que levam a atos de vandalismo e à destruição dos bens sociais e das nossas estátuas. Não podemos apagar a história! Ela faz parte de nós, existimos porque os nossos antepassados escreveram as páginas da nossa história tenha ela sido boa, má, insensível, vitoriosa ou vergonhosa, é a nossa história. É como o tempo, não se repete.
Nem todos os países tem experienciado da mesma forma a pandemia da COVID-19. Muitos são aqueles se encontram devidamente organizados, permitindo-lhes de forma ágil e otimizada fazer face ao aumento da doença nas suas comunidades. As medidas drásticas de isolamento, a capacidade tecnológica na resposta rápida e eficaz à doença, a riqueza interna que permitiu comprar ou produzir os materiais indispensáveis para proteção da população em tempo recorde, são certamente a razão do maior controlo da doença.
Quando me propus escrever esta crónica olhei para o pequeno universo em que vivo e trabalho, e fez-me sentido falar da recuperação e da forma como estamos a viver este desconfinamento.
A maioria significativa dos hospitais portugueses não tinha Planos de Recuperação de Desastres (DRP- Disaster Recovery PLan) e Planos de Continuidade do Negócio (BCP – Business Continuity Plan). Este tipo de processos quando existem, suportam uma emergência da natureza desta pandemia, e são efetivamente uma vantagem competitiva, com abordagens baseadas no planeamento e na gestão, os quais no médio, longo prazo, geram valor e vantagens para as organizações que os detêm. Em emergência, o que se pretende é minimizar as consequências negativas e assegurar que esta não se transforma em desastre total. No entanto e como temos vindo a assistir, precisamos de saber mais sobre o "dia seguinte". Devemos ser mais organizados e prever situações como estas que estamos a viver. As Corporate Strategy das instituições de saúde, precisam aprender como tudo isto se desenha, projeta e se implementa, em caso de necessidade. Muitos de nós que ocupamos lugares de gestão, temos pouco conhecimento da gestão destes riscos organizacionais, nas abordagens a desenvolver para rapidamente para alcançarmos a nossa missão, recuperarmos a nossa operacionalidade, preservarmos a nossa imagem e reputação, e acima de tudo, os nossos doentes.
A COVID-19 tem sido efetivamente muito disruptiva para as organizações de saúde, infelizmente com forte impacto na sua atividade. Estamos a “aprender a aprender", mas precisamos de o fazer de forma mais consciente, sediada em evidências cientificas e com normativos internacionais que nos ajudarão na reengenharia dos sistemas das nossas instituições.
Almada, 14 de junho 2020